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Entendendo o Delirium

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1 - Introdução

O delirium é, basicamente, uma perturbação da consciência, atenção, cognição e percepção, podendo afetar o sono, a atividade psicomotora e as emoções.

O Delirium ou Estado de confusão mental foi descrito por Hipócrates por volta de 460-366 a.C., sendo um dos primeiros transtornos neurológicos conhecidos. O termo delirium deriva do latim 'delirare', que significa "estar fora do lugar", mas é usado atualmente com o sentido de "estar confuso, distorcendo a realidade, fora de si".

Por ser frequente e por se apresentar muito mais com alterações psíquicas e comportamentais do que clínicas, é motivo comum de solicitação de avaliação do psiquiatra em Hospitais Gerais e de procura por Psiquiatra pela população geral.

No entanto, o delirium é uma condição médica PREDOMINANTEMENTE CLÍNICA.

Isto significa que deve ser investigada uma causa orgânica (não psíquica) para as alterações apresentadas pelo paciente.

 

2 - Diagnóstico

A. Perturbação da consciência (clareza reduzida da consciência do ambiente) com redução da capacidade de focar, manter e transferir a atenção.

B. Mudança na cognição (por exemplo: déficit de memória, desorientação, perturbação da linguagem)

C. Essa perturbação se desenvolve em período de tempo curto (horas ou dias) e tende a flutuar durante o dia. (períodos de melhora e de piora)

Pode ocorrer devido a uma condição médica geral, induzido por substâncias e devido a múltiplas causas.

 

Diagnosticar um quadro de delirium é relativamente fácil. O que ocorre com frequência é uma confusão, sendo que, apesar de sinais evidentes de delirium, os familiares ou o próprio médico acharem que se trata de alteração psiquiátrica, quando isso na verdade é apenas consequência de algum problema físico no organismo do paciente.

 

Portanto, além do diagnóstico do delirium, deve ser feita uma investigação completa (especialmente em idosos e populações especiais) a fim de que se detecte a sua causa.

 

Essa investigação inclui exame físico completo, exames laboratoriais e exames de imagem. 

 

Muitas vezes, mesmo fazendo uma varredura completa, fica difícil detectar a causa da perturbação da consciência. Isso não exclui o diagnóstico de delirium.

 

3 - Tratamento

 

O tratamento do delirium consiste em basicamente tratar a causa clínica subjacente, seja ela um distúrbio metabólico, seja a intoxicação ou abstinência de substâncias psicoativas, seja ela uma infecção.

 

O fato de a causa base ter sido eliminada não quer dizer que o paciente também vai melhorar imediatamente. É nesse momento que os clínicos gerais pedem, sem necessidade, avaliação do psiquiatra. A perturbação da consciência pode persistir por até 6 semanas após a causa base ser eliminada. 

Algumas vezes o paciente apresenta agressividade, alterações de comportamento, sendo necesária sua contenção física no leito para que não se fira nem fira outras pessoas. Caso seja necessário, o médico clínico pode prescrever, por via oral ou intramuscular antipsicóticos de alta potência e em baixas doses, conforme necessário, a fim de amenizar os sintomas psíquicos. 

Não devem ser administrados benzodiazepínicos, anticolinérgicos nem anti-histamínicos devido a piorarem a confusão mental.

4 - Delírio, Delirium e Delirium tremens

Todos se referem a transtornos do pensamento, porém delírio envolvem crenças distorcidas sem prejuízo na inteligência, enquanto delirium envolve distúrbios cognitivos em função de um problema orgânico.

Delírio envolve crenças mal fundamentadas, que a pessoa resiste a qualquer argumentação lógica e que causa sérios prejuízos na vida social do indivíduo. Exemplos: Delírio de grandeza, delírio de perseguição, ciúme patológico...

Delirium se refere a uma confusão mental aguda e importante fator diagnóstico de transtorno orgânico. Exemplo: Após passar dias sem dormir Salvador Dali relatava ver objetos sólidos escorrendo e alucinações que inspiravam suas pinturas. Um exemplo mais comum é não conseguir raciocinar adequadamente, se sentir desorientado, confuso, lento e apático diante de uma infecção muito séria.

Delirium tremens é um tipo de delirium específico da Síndrome de Abstinência de drogas como álcool, maconha, cocaína ou medicamentos depressores do sistema nervoso central. Envolve confusão mental, muita ansiedade, euforia, rápidas variações de humor, distúrbios do sono e convulsões.

5 - Medidas para evitar e corrigir o delirium

Tratar a causa de base é a medida mais importante.

Deixar o local onde está o paciente sempre arejado, com janelas, a fim de que o paciente saiba quando é dia e quando é noite.

Colocar um relógio e um calendário próximo ao paciente para evitar desorientação.

Deixar, se possível, fotos de familiares próximas ao paciente para que o mesmo se sinta próximo deles, mesmo em ambientes onde o acesso de familiares é restrito (como UTI, por exemplo).

 

Seguindo essas medidas, reduzimos muito a ocorrência dessa manifestação tão comum nas enfermarias de hospitais gerais.

Autor

Dr Daniel Augusto Correa Vasques

Dr Daniel Augusto Correa Vasques

Psiquiatra, Psicogeriatria

Especialização em Psiquiatria no(a) santa casa de misericordia de são paulo.


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